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Um brinde à minha tia Vera, a bonne vivante
O gosto do amor é variado, mas o do amor de tia é perfeito como a melhor torta de nozes com damasco e doce de leite.
Tia é aquele abraço afetuoso, a alegria pela conquista do sobrinho, trocas de mensagens descontraídas na quarta-feira (“olha esse café da Ralph Lauren em Londres!”), o compartilhamento de dicas de leituras (“Monique se Liberta é o melhor do Édouard Louis”) e um sorriso roubado na mesa de café porque os olhares se cruzaram sem hora marcada.
A minha tia Vera era a epítome do que é ser tia. Não tem um sobrinho da minha tia Vera que não a ame. Que não tenha se sentido devastado pela perda monumental que sofremos esta semana. Que não soubesse que ela estaria lá para aplaudir nossas pequenas, médias ou grandes vitórias.
Foi ela quem estava comigo quando eu fui nomeado no meu primeiro concurso público, momento em que me tornei seu colega de órgão público e vi em seu sorriso o orgulho. Ela pediu uma pizza para comemorarmos.
Ela também se fez presente quando fui nomeado no segundo concurso público. Foi quando bebemos juntos um vinho de 500 reais.
Ela foi quem primeiro me disse que Paris era a minha cara, antes mesmo de eu ter posto os pés por lá. E me conhecia bem: Paris virou a minha cidade favorita no mundo. Aliás, era com ela que eu trocava mensagens em francês.
Ela arrumou uma mochilinha com um lanche quando minha mãe ia entrar em uma cirurgia durante a pandemia e eu não podia ser acompanhante no hospital.
Foi ela quem respondeu meu story de Vale Tudo dizendo “aaaaamo!”. Que lembrou de mim quando a Lady Gaga fez o show em Copacabana. Que comprou sem querer (a Amazon e seus truques) um perfume de 150 dólares (o Good Girl da Carolina Herrera) e mandou entregar quando eu estava em Los Angeles (não conseguimos devolver, ela odiou o cheiro mas aprendeu a gostar só pra não ter sido em vão).
Com ela eu fui a um show de sertanejo no gramadão da Beira-Mar Continental quando eu tinha brigado com minha namorada e não queria ficar sozinho.
Eu não sei como vai ser minha vida sem ela. Quer dizer, isso é uma mentira. Eu sei sim: com muito menos graça.
Eu fui sortudo de ter essa tia, que vivia a vida do jeito mais alegre possível, contagiando tudo e a todos.
Em seus 68 anos ela soube aproveitar cada momento: um café da tarde nunca era só um café da tarde. Tinha pão especial da sua padaria favorita, as louças organizadas de forma impecável e uma toalha bem arrumadinha. Porque capricho também é cuidado. E cuidado é viver cada momento como se ele fosse especial. Porque é mesmo.
O mundo seria bem melhor se fôssemos todos um pouco mais Vera.
Eu te amo muito, minha tia. Descanse em paz.
Obrigado, obrigado, obrigado.



LINDO e VERDADEIRO. Eu convivi com a Vera em momentos muito específicos, poucos, mas todos muito intensos e alegres, felizes de fato - e é esta a lembrança que guardo deste ser FANTÁSTICO desta mulher que era uma FORÇA DA NATUREZA. Eu gostava dela - e sei que ela tbem gostava de mim. Nos reconhecíamos em algum lugar que só nós sabíamos... Sejamos um pouco mais VERA - vou guardar isso para sempre. Um perda lastimável. Sem palavras. Sorte a nossa que podemos partilhar da sua existência. Somos agraciados.
Incrível como conseguiste colocar em palavras o indizível, o que só se sente.
A relação de vocês já foi especial mesmo quando estavas ainda na minha barriga. Tudo que ela via de mais bonito para bebê ela comprava para ti. Sempre foi uma mãezona para ti. Lindo ver que essa ligação nunca se rompeu - ao contrário, foi se estreitando cada vez mais...
E, tenho certeza que é tão forte, que ela continuará dentro de ti para sempre!
Muito obrigada por partilhar este amor gigante por alguém que eu amo infinitamente✨🌟💫.